Creuza, mulher neura: Salão.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Duas semanas na espera e o grande dia chegou pra nossa heroína, Creuza. Ela estava com hora marcada no salão da Valdete, o salão de patroa do bairro. Mas claro, existe um bom motivo para isso: Comprou cupom no pobre urbano e estava se engraçando com Arlindo, o dançarino gostoso de forró da rua de cima. Apaixonada e necessitando (urgentemente) de dar uma arrumada, ficar de nível, toda boa pra boas trepada, lá se foi toda em cima ter dia de princesa.

Sábado, a tarde:

Chegou no salão com blusa rosa com estampa de flor amarela feliz, shortinho jeans e sandálias plataforma Claudia Leitte, toda radiante. Chega Valdete que a bota pra sentar naquela cadeira confortável com apoio para os pés. Crê solta à cabeleira e pede aquele visual de atriz da Globo, afinal, teve uma baita sorte de pelo menos ter cabelo bom: liso. Enquanto Valdete repicava e fazia as mechas loiras no cabelo da cliente, a moça olha pro lado e veja só! Julinha a biscate está lá também, vadia.

Ela vira rápidamente o rosto pro outro lado esperando que Julinha não a reconheça, mas era tarde demais, a biscate ja tinha lançado um oi. Por falsidade educação, a nossa pobre heroína a cumprimenta toda temerosa. O penteado das duas é finalizado ao mesmo tempo. Vish, farão unhas juntas. Julinha escolheu o seu tradicional esmalte vermelho puta, já Crê escolheu um rosa bebê pra fazer a recatada e dar um ar conflito usurpadora. Finalmente, Crê se vê sendo chamada para a depilação e se livra da safada.

sala de depilação: paredes verde-claro, cortina florida, chão cheio de pêlos (e coisas que deviam ser pêlos), uma maca e uma estante cheia de potes com fórmulas e objetos cortantes e fálicos (rs).

Crê ja senta e fica no aguarda de Zuzu, a boa no sirviço. A mulher chega, bota Creuza pra se deitar e já diz: completa, né danada, faço valer esse cupom. Zuzu inicia tirando o subaco da cliente, foi quase indolor. E assim foi perna, buço, etc. Daí chega aquela hora em que a cava funda chega, os pêlos remanescentes do corpo clamaram por amor. Nossa heroína então mostra as intimidades pra Zuzu, que não consegue negar: 'Trabalhão vai ser isso aqui ein menina’ - diz Zuzu.

A depiladora estica os braços e alonga os dedos, bota a cera no microondas enquanto derruba uma floresta negra com a tesoura afiada. O microondas faz o beep, e ja ta ela lá na loção com uma faca sem ponta passando feito geléia a cera nas intimidade. O papel de depilação aparece e é colocado, então

ZU #$@¨!*!#


Qualé filha, desde séc XX a dona não faz essa mata, guenta - disse Zuzu
Essa puxada rancou meu útero junto, sua fidaputa – disse Creuza
Faz valer esse cupom, vai – disse Zuzu

(alguns minutos de gritos depois)

Num disse que ia ficar bunita? Falta só esse pedacinhoinho – disse Zuzu
Me arrebenta logo cadela – disse Creuza

(mais uns Z$#2%4@ minutos)

Ae, terminamos. Só passar um bom talco aí – disse Zuzu
Beleza, deixa a bicha grisalha – finalizou Creuza.

Crê então sai toda boa, toda goshtosa. Ela vai atravessar a rua e passa um corcel em alta velocidade jorrando a poça que estava no asfalto sobre a coitada

Era Arlindo acompanhado de Julinha na charanga...

Creuza, mulher neura:Terça-feira

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Ela viu que hoje seria um grande dia: sujou todo o lençol com sua menstruação e já sentiu que teria um dia gostoso. Ligou a TV, deu de cara com a Ana Maria Braga, desligou a TV. Abriu a geladeira e viu que seu salário não estava condizente com seu estômago. Bebeu 4 copos de água em jejum pois Lena, a vizinha, emagreceu já 3 kgs fazendo tal feito. Pegou uma goiaba com fungo, cortou e jogou fora a parte contaminada e comeu todo o resto, afinal odeia desperdício. Olhou para o relógio e viu que tinha apenas 34 minutos para ir ao trabalho. Tomou um banho cronometrado, viu que o xampu estava no fim e misturou com água para economizar, saiu do banho.


Abriu o guarda-roupa, escolheu a blusa vermelha que comprou no brechó da Odete. Crê acredita no poder das cores, como está na seca há alguns meses, sempre tem preferido a cor vermelha, afinal dizem que ela atrai a paixão. Penteou o cabelo e o prendeu com uma caneta. Faltavam ainda 16 minutos para chegar ao trabalho, que por sorte, fica a (alguns) quarteirões de sua casa. Calçou rapidamente seus sapatos de batente e sentiu da pior maneira que precisa trocá-los ao ver os band-aids no seu calcanhar. Escovou os dentes rápido demais e tomou listerine misturado com água, novamente para economizar. Pegou sua bolsa e saiu de casa. Trancou o portão velho e barulhento e escondeu as chaves no buraquinho da caixa de correio. Andando pela rua ouve o barulho ensurdecedor de um velho Opala, era seu Jurandir.

*Jurandir é um velho taradinho de bigode sujo que está a meses tentando ter algo com a pobre coitada, a borracharia em que trabalha fica de frente a advocacia onde Crê é secretária.

O bigodudo ofereceu carona à moça, que por estar com muito medo de chegar atrasada, topou sem hesitar. No caminho Crê ficou o tempo todo com a cabeça pra fora da janela tentando respirar, pois tinha que agüentar o cecê dos infernos de Seu Jurandir. Infelizmente, o velho insistia em puxar assunto com Crê, que apenas reparava nos dentes que estavam por cair e no bafo de onça do velho, além do cecê que impregnava aquele velho Opala. Após 8 míseros minutos torturantes, finalmente chegaram ao destino.

Crê saiu o mais depressa possível da charanga, agradeceu de longe o velho borracheiro e disse que só não ia dar uma despedida melhor porque estava com pressa. Iniciou seu dia de trabalho e teve que agüentar a cara de bunda de Dona Silvinha, mulher do patrão (Dr. Carlos) que sempre olha desconfiada para Crê, achando que a pobre secretária tem algo com seu marido babão. A Dona estava lá pra pedir novamente a liberação do seu cartão crédito, pois acha absurdo Dr. Carlos ter cortado simplesmente por ter feito um limpa em uma butique. Após uma manhã ouvindo os berros vindos do escritório do Dr. Carlos, a hora do almoço finalmente chegou. A pobre moça ia abrindo sua quentinha quando Julinha (a verdadeira secretária biscate) avisou que roubaria seu bife por não ter ajudado na cobertura dos amassos entre ela e Dr. Carlos às 15hrs do dia anterior. Crê então teve seu almoço sem carne, ficou sem as importantes proteínas da sua dieta.

Após cumprir o dever rotineiro de trabalhar, voltou para casa. Chegou e fez um mexido sem carne com a sobra da quentinha do almoço. Vestiu sua camisola da Minnie e pantufas de coelhinho. Assistiu sua novela questionando o que é que alguma mulher consegue ver no Zé Mayer e acabou dormindo com a TV ligada, aumentando o consumo mensal de energia de sua residência.